Uma leitura debochada


Mais uma vez, eu tentei ler meu jornal de domingo. 
‘Tentar’ soa forte neste texto, pois a tentativa foi em vão. 

Encanta-me a retórica jornalística rotineira, que às vezes me faz acreditar que sou uma tola, por inocente e esperançosamente sair às manhãs de domingo num ato capitalista e quase ingênuo em busca do periódico de final de semana. 

E, toda vez que eu o leio, imaginando quase em uma súplica por uma leitura nova, deparo-me com os mesmo tons pastéis da página, com a mesma ironia em desesperança dos seus autores sempre burlescos, argumentando jocosamente de modo contínuo uma realidade tão bem conhecida por todos, que não merece nem mesmo uma página da gazeta. 

Decepcionam-me as notícias, as manchetes, os assuntos abordados e, até mesmo as tirinhas sem graça e o caderno de esportes. 

Quando eu vou ver na capa da folha manchetes como: “Lei aprova o aumento de salários de 45% para os professores das escolas públicas e universidades federais.”, ou quem sabe aquelas notícias mais pilhéricas, tais quais, “A CPI do Rabo Preso resolve encarcerar o próprio rabo”, ou talvez aquelas informações que agitam os investidores quiçá uma nação inteira como “Brasil em plena hegemonia econômica...”? Mas até parece utopia. 

Agora me responda caro leitor, que me acompanha neste blog, como posso eu em plena atividade cerebral, em certeza da saúde de minhas faculdades mentais, ler artigos falaciosos que alimentam as nossas mentes de modo derrotista praticamente e me sentir informada com tudo isso? Com tantas novidades acontecendo no mundo inteiro, eu gasto meu pouco capital em uma leitura enfadonha. 

Semana passada, inclusive, fiquei sabendo por fontes alternativas sobre avanços tecnológicos muito interessantes, além de pesquisas a parte de assuntos pertinentes à nossa dificuldade em conciliar esse desafiador termo paradoxal dos últimos tempos, que tem sido o desenvolvimento sustentável. E enquanto isso ocorria em laboratórios, testes e aplicações práticas, os jornais narravam uma novela mexicana diversas vezes reprisada, com finais em pizzaria e se é que isso faz alusão a algum desfecho interessante. 

Só sei que é muito curioso todo esse escárnio da mídia impressa sobre seu resguardado tema. Ardilosos, que só vendo, burlesqueando no seu assunto mais trabalhado e adorado. Então, brindemos à avacalhação, meus caros! 

Imagino, contudo, que o leitor perspicaz vai perceber que o que tentei propor aqui não foi mais uma câmara incorrigível de discussões políticas, mas sim uma observação um tanto sarcástica à altura do jornalismo de banca, digno de críticas, admirações, defesas e polêmicas. Até porque, mexer num ponto dessa estrutura política de interesses puramente pessoais e de gaga oposição leva, forçosamente, a sucessivos pontos. O que seria um desgaste calórico por digitar aqui desnecessário. 

Quero apenas deixar registrada a ideia nada surpreendente de que o dia em que a população perceber quem realmente está no poder, o script dessa novela poderá ser diferente e o placar desse jogo finalmente sai do zero a zero. 

Comentários

  1. Eu ri com a CPI do rabo preso! haha
    Verdade!
    Eu li o jornal semana passada.
    Isso sem contar com o capital erótico, que foi um tema abordado por conta do depoimento da Xuxa, pois, caso contrário, nem lembrariam desse assunto.
    Boa observação, menina.

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  2. Ah, é verdade.
    Eu me recordo muito bem dessa parte.
    No entanto, eu nem liguei muito para essa crítica, afinal, foi um depoimento que surpreendeu muita gente, merecia realmente um espaço na gazeta.
    Mas em parte você lembrou bem.
    Também acho que esse assunto não seria comentado mais, são infelizmente acontecimentos contínuos atualmente.
    E eu fui muito radical nesse texto, acho que me revoltei.
    Não precisava disso tudo, era só para expor a minha indignação do porquê de tanto escárnio nos jornais, que eu não consigo entender, e não exclusivamente o fato de falar sobre a política brasileira.
    Muito pelo contrário, é sempre bom saber em que pés andam a nossa política.

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    1. Pois é, talvez eu esteja enganado, mas na minha concepção eles fazem essa chacota assim porque já virou piada na boca do povo mesmo.
      Que pena.

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