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Mostrando postagens de julho, 2012

Once upon a time...

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... uma gota, numa janela do quarto de uma casa. O quarto era realmente um primor, cheio de objetos artesanais até no lustre que o teto exibia. Era domingo, se não sabia. E embora tudo parecesse incrivelmente convidativo naquele lugar, quente e bem iluminado, a atenção dos olhinhos cor de mel se prendia à pequena gota que vagarosamente escorregava pela janela. Dona Lúcia, entrou com os bolinhos e xícaras coloridas com coraçõezinhos de várias nuanças, porém, nem mesmo o chocolate quente dispersou o interesse dos pequenos pela gota que, agora já fazendo curva, deslizava pelo vidro. Ninguém ousava quebrar o silêncio que reinava no ambiente, até mesmo Sansão, o labrador sapeca da família, respeitava aquele momento de plena perplexidade infantil. Ele olhava tentando procurar na janela onde estaria a diversão, mas Sansão não entendia: “Ele era muito inocente ainda”, já diria Marcos. Não se sabe se fora sorte ou azar, mas ele tinha nascido cão e como um bom cachorrinho ele ficaria

Ajudai-me, Minha Nossa Senhora das Desilusões!

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Acordei com uma vontade danada de me iludir hoje. Oh, não, não é loucura.  Hoje eu quero me apaixonar.  Chupar da vida até o bagaço, tomar em goles os dias bonitos e bebericar só de vez em nunca aqueles dias amargos, que é para não esquecer que o quanto a vida é boa e me dá só às vezes dias ruins. Quero me ludibriar com o fútil, achá-lo lindo, adorá-lo, louvá-lo e abandoná-lo com a mesma força com a qual me enganei. Quero brindar a bondade dos maus mascarados que encontrar pelo caminho, bater palmas para os políticos e dançar valsa com os mentirosos.  Mas, primeiramente, hoje eu quero fingir que eu acordei bem para tudo isso. E depois eu me desiludiria, pois isso a vida já me ensinou como faz e eu tiro de letra! Porém, a desilusão tem que acontecer a conta-gotas porque é um processo de amadurecimento que precisamos experimentar com muita cautela, para não nos esquecermos de nenhum detalhe.

Deveria abraçar todas as palavras que brotam em mim

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Já tive, por vezes, a necessidade absurda da surdez. Pois sim. A necessidade explicável dessa inexplicável vontade de não escutar o que o mundo me diz, apenas porque este mundo nada me fala nem me esclarece. Uso palavras que não criei, mal sei de onde vieram ou quem as fez, só sei que uso e nem sei qual o real sentido do que foi dito, do que estou dizendo. E as palavras têm um domínio sobre-humano de todos nós, pois nos deixamos aprisionar por elas nelas, nos rendemos às mentiras e fugimos das verdades. O que eu posso esperar da liberdade que me aprisiona na palavra livre, simplesmente? E depois que se é feliz, o que se faz com a felicidade? Oh, palavras... o que fazer dessa substância amorfa à qual tentamos deliberadamente dar forma e sentido? E da palavra ‘palavra’, que tão determinada utilizei para dizer que não sei o que estou dizendo, que conheço dessa junção de letras? Parece loucura, mas pensar assim me torna mais próxima da natureza humana e não me faz cair em meros dev