Cansei de fazer versos como quem chora,

cansei de viver uma vida inventada e de construir sonhos em alicerces de vento. 

Cansei dos mesmos lugares e mesmas pessoas, cansei da rotina, das minhas ideias e frases tontas, cansei das minhas asneiras e vontades, da minha tristeza e da minha alegria. 

Cansei também das novidades, das mentes travadas para o mundo e da falta de compreensão dos sufocados pelo sistema, cansei de mim e de tentar viver.

Gosto dos versos, dos choros, da vida, dos sonhos e do vento. 

Mas eles perderam a graça faz muito tempo. 

Nunca gostei de rosas, de gente, de santos e amores, como a maioria gosta. 

Sempre me desenhei em preto e branco e desejei uma vida colorida. 

Covardia e medo sempre estiveram do meu lado. Mas eu arrisco mesmo assim. 

Desejei tanto tanta coisa e nunca consegui o que tanto quis. Sempre me servi bem de avessos. Talvez, fosse por isso que eu vivi a minha vida inteira de passado ansiando o futuro, o presente eu sempre deixava para depois. E, sinceramente, sempre me senti bem e satisfeita. Até que um dia, um certo alguém de quem não me recordo mais me fez perceber esse monstro que eu sou e, depois, muitos outros alguéns o fizeram. 

E me puseram como minha plateia, assistindo às mais podres sujeiras do meu cenário, vendo a minha peça acontecer sem público, sem aplausos. 

(É mesmo bem típico meu, colocar a culpa dos meus problemas existenciais nos outros)

Sou pobre de sonhos, de amores e vontade. Jogo na minha cara meias verdades, que me corrompem e me invadem de dúvidas, o que quero de mim? 

Nunca soube o que queria na verdade. Hoje nem sei o que esperar dessa menina verde que eu sempre fui, imatura e incompleta. Me doei muito ao vento, me lavei na lama, me vesti de águas passadas e me deixei caminhar em estradas sem rumos. 

Hoje estou assim, perplexa comigo, cheia de nadas, vazia de tudo, assim...