A solidão da flor do campo

Já viram que bela a flor do campo, que cresce mesmo que em meio a algumas ervas daninhas? Tão vibrante com suas cores, atrai os beija-flores mais famintos. Aves agitadas que espalham os pequenos grãos de fertilidade da linda flor pelo campo, cheio de espaço e vazio de vida.

As flores do campo são uma verdadeira bênção de Deus! Nascem espontaneamente e multiplicam-se sem intervenção humana, apresentando características únicas e uma naturalidade que as imbui de uma beleza particular. E, bravas que são, as belas flores não precisam de cuidados e se alastram pelo campo, embelezando-o de uma forma ainda mais intensa durante a Primavera.

E assim a flor do campo insiste, resiste e cresce entre os capins, sedenta pelos olhos sensíveis do poeta, atento aos detalhes mais divinos do tempo e do espaço. Mas enquanto resiste aos devaneios da natureza, os distraídos não percebem o valor da pequena flor e a pisoteiam, arrancam seus miúdos e mais novos botões cheios de vida. Com sorte, a linda flor campestre se tornará futuramente um adorno de cabelo ou um buquê colorido de alguma noiva à porta da igreja, ansiosa para o seu casamento.

Viver à mercê da generosidade do tempo e do homem não é nada fácil. Ah, como é complicado ser flor nesse mundo! Em tempos de escassez de chuva é inevitável não murchar um pouco e deixar morrer um pedaço de si. E, se quiser sobreviver, é preciso ser sábia e extrair das profundezas da terra a força para se manter viva. Curioso é que muito embora, ao se olhar envolta, hajam tantas outras flores no campo, cada flor resiste em sua individualidade, vive em sua solidão para se manter vibrante e reprodutiva. Algumas podem tornar-se espécies invasoras, se não forem devidamente controladas, tomando conta da paisagem e “matando” as restantes vegetações à sua volta. São margaridas, girassóis, dentes-de-leão, malmequeres, hortências, violetas, gerberas e lírios, cada qual em seu espaço naturalmente escolhido.

Por vezes aparecem umas borboletas esbaforidas, que se alimentam da juventude e energia da solitária flor e seguem em direção à sua efêmera busca. A mesma beleza que encanta sabota a vida. Ser flor é algo que pode parecer lindo e realmente é. É lindo ser resistência em um mundo que não compreende que força não é brutalidade. Mas ser uma flor do campo é saber estar sozinho em meio a tantas outras, com simplicidade e energia, conservando ao longo de muitas primaveras um espírito livre, que não se limita e se doa ao mundo de forma espontânea e selvagem, sem nunca se perguntar o porquê, para que e para quem. Ser flor do campo é alimentar a vida, enquanto alimenta os sonhos dos poetas, aves famintas, terras secas e paisagens coléricas.

Sê flor do campo, ainda que não seja uma tarefa simples. Resista com bravura todas as suas estações e vibre a cada primavera.

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