Quais de mim?


Quero mudar.

Não sei quando nem por que, mas eu peguei o caminho errado para o meu futuro.
Esse é o mal de sair entrando em atalhos por trilhas desconhecidas e é todo o meu problema agora.

Eu fecho os meus olhos para, em meio ao breu das minhas pálpebras cerradas, tentar encontrar a minha outra face perdida. Mas eu só encontro um passado que não gosto de relembrar porque sei que já passou e sem data prevista para retorno. Fatos bonitos, agradáveis e incríveis aconteceram nos meus dias, momentos que não voltam mais, experiências que não se repetem e uma Eu, que tentei deixar para trás em busca do novo.

Mas que novo?

Ah, sim, aquele...

Vou contar-lhes uma coisa, meus caros, o arrependimento é a pior amargura pela qual uma pessoa pode sofrer. E isso é um desabafo simples, não quero ludibria-los com palavras bonitas e textos comoventes. Apenas digo o que sinto agora com um único pretexto: encontrar quem eu fui, ou melhor, quem ainda existe em mim, mas que não lembro onde deixei.

Acontece que eu estava decida a inventar um destino e fiz tudo errado. Forcei-me a ser o que não era e fui tantas e, destas tantas, não sou uma sequer.

Agora tudo mexe comigo.
Eu vejo a onda me trazendo espumas do mar e a onda me atinge sem, ao menos, me tocar... me atinge ao pé do ouvido com um som maravilhoso que me dói por ser tão pleno. Eu vejo as crianças brincando no mar e aquilo me torna feliz, uma felicidade quase triste por não ser criança. Eu vejo o céu com suas cores e vidas, o Sol em toda sua potência nas alturas, as nuvens em sua existência duvidosa, as ruas cheias de pressa, de gente, de vazios e carros barulhentos com modelos, cores e tamanhos variados.
E se torna complicado descrever tudo o que vejo agora, são muitos acontecimentos ao mesmo tempo. Só sei que me perturbo com o ambiente. Quando estou sozinha quero gente, se tenho gente quero solidão. E eu não estou sabendo lidar com isso e por não saber eu fujo.

Para onde?
Conforta-me o som do ‘tic-tic’ apressado dos meus dedos ansiosos no teclado ou do ‘chic-chic’ que a caneta ressoa no papel. O que seria de mim sem eles?
É quando me descubro sempre a mesma, fiel e... sensível, talvez? Não sei.

É tão reconfortante poder tirar as máscaras e coloca-las sobre a mesa para dormir tranquila, de rosto limpo e verdadeiro. Ser uma em casa, ser outra no trabalho e outra com os amigos e outra com os vizinhos fofoqueiros e outra na faculdade e outra... e sempre outra simplesmente porque é necessário em mim agradar a gregos e troianos. Mas o curioso é que se for o contrário me faz um mal pior. Então eu optei por anular o ‘como eu era’ e sobrescrever um ‘como eu devo ser’, mas eu estou tão cansada hoje que estou assim.
Peço perdão a vocês, é que eu não sei quais de mim eu devo ser agora, não sei qual máscara usar neste dia, já estão gastas, não servem mais. Só que de uma coisa eu tenho certeza: OUTRA eu não quero mais.

Preciso ficar com essa por um tempo, do mesmo modo que preciso ficar quieta uns dias e chorar rios de felicidade incontida do passado, chorar marés de tristeza pelos erros que tanto me ensinaram - mas que me martirizam -, chorar pelo meu estúpido orgulho, chorar pelos amores inventados, pelos amores vividos e pelos que não deram certo... chorar pela vida que eu inventei para mim e que tem horas que eu gosto, me emociono e me sinto a pessoa mais bem-aventurada do mundo, mas que também, por vezes, me trás lembranças amargas das minhas escolhas mal feitas.

Oh, não pensem que estou chorando dores de paixões.
Amei muito até agora, mas foi demais. Amei todas as pessoas que passaram pela minha trilha mal percorrida, amei aqueles que eu nem lembro o nome, só sei que amei ou amo, não sei. Amei minha cadela... ah, como amei aquela cadela! Amei minha família, de um jeito estranho, mas sei que muito amei. E os amigos? Nem gosto de falar porque o meu amar é de longe, a proximidade me afasta, no entanto quando estou longe estou mais perto. Sinto carinho, felicidade e milhares de sensações boas quando penso que todos estão bem, mas não gosto de estar ao lado de cada um - isso é um defeito meu, eu sei -. Alguns perceberam e respeitaram, outros se chatearam e alguns outros até trocaram de rota para ficar distantes de mim e para que eu guardasse todos na memória como personagens importantes nessa minha vida peregrina.

E até aqueles com quem eu briguei, só briguei porque amei, acontece que o amor estava doente. Isso é o que a proximidade exagerada faz com ele, o adoece.

Mas e agora?

Agora estou usando uma de mim que não costumo utilizar em público, só à noite, quando estou comigo e ninguém mais vê.

Não quero mais nada, não sei mais se amo, o que ou quem amo, não sei se sigo em frente, se paro ou volto; voltar seria bom, mas não seria interessante, parar seria monótono, mas continuar seria simplesmente continuar.

E eu quero que essa minha aflição continue?

As palavras são escassas, as músicas são inconsoláveis, as comidas são insaciáveis, o conhecimento é cada vez mais ignorante, quanto mais eu descubro mais eu percebo que nada sei, as piadas não me tiram mais o riso, eu rio mesmo é por costume ou mania, mas a verdade é que a graça acabou faz tempo, muito tempo.

E o que me faz ainda respirar é acreditar, de um jeito estranho, que tudo isso algum dia vai valer a pena de lembrar ou, quem sabe, vai ser o início de mim de verdade.
Eu não sei.

Só sei que eu queria um colo de mãe agora, mas ela não está aqui. Então eu quero um abraço de pai, mas ele morreu faz tempo. Queria chorar, mas não consigo. Queria ir dar um abraço no Jô e ganhar um beijo do gordo, mas não sou famosa. Queria ser escritora, mas não tive “sonhos encantados”, como os da Stephenie Meyer, ou viajei pelos mesmos lugares que o Paulo Coelho, nunca tive um “Diário de uma paixão” ou um “Amor para recordar”, não sou “Mestre da vida”, nem ao menos terminei a minha graduação, que, a propósito, nada tem a ver com letras, mas sim com zeros e uns. Queria ser boa aluna novamente, mas não tenho ânimo para me esforçar. Queria não querer nada para ser livre de tudo. Queria não ter orações adversativas neste texto, pois esses “mas” são inconscientemente sucedidos de desprezíveis complementos.

Queria que me perdoassem pelo texto grande e chato, não pude fazer diferente, mas amo vocês.

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